Breaking Bread

Nos dias 31 de Maio e 1 de Junho, a Bienal de Valada e a BASE – Escola de Arte apresentam a mostra Breaking Bread, com curadoria de Andreia César e Sandrine Llouquet. Breaking Bread reúne trabalhos de professores, artistas residentes e alunos das oficinas de Cerâmica, Escultura em Madeira, Serigrafia, Gravura e Desenho e Pintura da BASE, em Valada do Ribatejo.

Breaking Bread é uma co-produção entre a Bienal de Valada e a BASE – Escola de Arte, com curadoria de Andreia César (Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul) e Sandrine Llouquet (O Gabinete de Madame Thao), e conta com o apoio à produção de O Gabinete de Madame Thao, Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul e Miguel Castro Art Advisor. Esta mostra é realizada com o apoio institucional da Câmara Municipal do Cartaxo, Junta de Freguesia de Valada do Ribatejo, O Tejo – Centro de Dia e ATL de Valada, RFCV – Ribatejano Futebol Clube Valadense, Quinta da Lapa e SóRio – Parque de Diversões.

Breaking Bread tem também o apoio de espaços de particulares e comerciais que acolhem exposições no âmbito da Bienal, nomeadamente a Garagem do Rudolfo, o Pátio da Menina Laura, a Casa do Francês, o Café O Bairro assim como da população de Valada, que acolhe a comunidade artística da BASE e colabora na produção.

Participam na mostra Breaking Bread Ana Bruto da Costa, António Capelo, António João Lima, Carlos Ribeiro, Carlota Mantero, Esmeraldina Sacadura, Fernando Morais, Fernando Sarmento, Filipa Pestana, Flávia Germano Barra, Frederico Pratas, Giulia Baiocchi, Helena Brandão, João Silva, Lane Marinho, Luís Bragança Gil, Manuel Maranha, Maria de Sousa, Maria Garcia, Maria João Rendas, Maria Manuel Lira, Maria Ribeiro, Mariana Nogueira, Martim Morais, Marta Roux, Margarida Saraiva, Miguel Lopes, Natalia Santander, Olivia Marty, Ricardo Castro Ferreira, Rita Grancho, Sara Daoud, Sofia Campilho, Sofia Sacadura, Susana Cannas, Teresa Sanches de Baêna, Tristan Le Guay, Vera Máximo, Vicente Saraiva.

Breaking Bread

Esta mostra da Bienal de Valada, intitulada Breaking Bread, desdobra-se como um gesto simultaneamente artístico e relacional. Concebida como um processo de contaminação fecunda entre sensíveis linguagens e saberes, a presente edição envolve os artistas da BASE – Escola de Arte numa dinâmica de abertura à alteridade, ao território e à memória compartilhada. Inscrevendo-se na continuidade dos gestos iniciados pela artista Flávia Germano Barra, fundadora da Bienal de Valada, esta mostra artística multidisciplinar explora a ideia de que toda criação é um acto de contaminação, uma troca de inteligibilidades múltiplas.

Entre a BASE – Escola de Arte e os habitantes de Valada, Breaking Bread não procura justapor ou conciliar dois mundos, mas sim revelar a sua permeabilidade. Seguindo a linha das práticas relacionais evocadas por Nicolas Bourriaud na sua Estética Relacional, esta exposição expandida assume a forma de um diálogo vivo, faz do lugar de partilha um terreno fértil para a experimentação artística. Ela ancora-se numa vontade de construção coletiva, de coabitação valorativa e sensível, guiada pelos princípios da generosidade, da reciprocidade e da escuta. Tal como havia dito Alves Redol (escritor a quem a paisagem e as gentes valadenses não foram indiferentes), aqui todos, “individual e coletivamente, participam na criação constante de um corpo vivo, projetado em milhentas imagens que se focam e desfocam ao sabor de quem vê [lê] e reimagina”.

O pão partido e partilhado – o torricado, torrado sobre brasas, aromatizado com alho, azeite e sal, e tradicionalmente preparado pelos trabalhadores durante o labor no campo – torna-se metáfora e matéria para reflexão: evoca não apenas a convivialidade, mas também uma memória ritual, um gesto ancestral, um acto de oferenda. Para além do profundo simbolismo atribuído ao pão, como a substanciação do divino e o alimento espiritual, este torricado, preparado para ser compartilhado, conta-nos sobre os vínculos de uma comunidade em relação íntima com a terra e o rio, com o ciclo das estações e a movimentação das águas (correntes e marés). Valada é uma geografia viva, marcada por tradições agrícolas e fluviais, onde o quotidiano se constrói por meio de gestos ritualizados: desde a preparação do pão até à veneração de Nossa Senhora da Expectação do Ó, a virgem grávida, figura feminina e sagrada, encarnação da espera, da fertilidade e das águas matriciais.

Assim, Breaking Bread torna-se um rito contemporâneo, uma travessia, um transbordo, uma oferenda — entre o dentro e o fora, entre o passado e o futuro. Através deste movimento dialético, as obras, os gestos e as presenças artísticas atuam como mediadores de narrativas, criando episódios simbióticos que não se baseiam nem na assimilação, nem na oposição, mas sim num entrelaçamento fecundo, à imagem da coexistência das espécies num mesmo ecossistema.

Em Valada, às margens do Tejo, caminhar juntos, criar juntos e repartir o pão juntos é inventar uma forma de arte em diálogo com o mundo: uma arte que se enraíza na relação, na lentidão do gesto, no reconhecimento do outro como portador de um saber e de uma história.

As obras reunidas em Breaking Bread testemunham um desejo comum: tecer vínculos entre o corpo, a memória, o território e o imaginário coletivo. Filipa Pestana transforma a antiga escola de Valada num lugar de reparação poética, onde o chão se torna uma superfície para a reedição e inscrição de memória. Frederico Pratas explora um lirismo místico e simbólico, no qual o feminino e a água encarnam o desejo e o sagrado. Vera Máximo problematiza o lugar do feminino através de peças cerâmicas e de um mural em homenagem aos relatos locais. Tristan Le Guay ocupa uma casa e um quiosque como espaços de partilha, com pinturas e desenhos de inquietante estranheza, inspiradas no quotidiano e nos duplos significados. Sofia Sacadura questiona o papel do futebol como uma convenção socialmente estabelecida e o seu impacto nas nossas vidas, na forma como ele afeta as emoções, entre a rejeição e o fascínio. Maria Manuel Lyra recria uma sala de espera médica, servindo de metáfora a uma temporalidade suspensa e a uma vulnerabilidade orgânica exposta. Vicente Saraiva reinventa compulsivamente heróis de bandas-desenhadas, séries e filmes em desenhos expressivos, reflexo de um mundo interior vibrante. Teresa Sanches de Baêna transforma uma inusitada sala de espera num espaço simbólico de transição, incerteza e memória, em diálogo com a luz e inspirado em Nossa Senhora da Expectação do Ó e na Divina Comédia.

Neste mesmo espírito, professores e alunos da BASE ocupam também outros espaços públicos e privados de Valada, prolongando a dinâmica de partilha e escuta no seio da vila.

Em conjunto, estas propostas traçam uma cartografia sensível entre os espaços privado e público, entre o singular e o coletivo, o visível e o invisível, o sagrado e o profano.

Andreia César e Sandrine Llouquet

Localização Oficinas da Escola Manuel da Maia. Rua Freitas Gazul nº6, 1350-149 Campo de Ourique, Lisboa.
Visitas por marcação, por favor agende a sua visita.

Contactos 92 754 90 92
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